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  • Pensar digilógico: Um novo mindset exigido às empresas

    O digital não está alterar apenas o que os indivíduos fazem; está a alterar os próprios indivíduos. Suportados nas principais conclusões da última investigação do C-Lab, podemos afirmar que o digital é profundo recriador de necessidades e de prioridades na vida dos indivíduos.

    Com este interface é possível estar-se em simultâneo no sítio onde se está e no sítio onde se quer estar. Os indivíduos (e consumidores) estão na posse de um novo poder, que é o de decidirem discricionariamente o mundo a que querem dar atenção em cada momento. Através do digital, pode-se ir às compras estando no trabalho, ver televisão no autocarro, trabalhar no café ou ir ao banco depois do jantar. Há uma interligação de tempos e uma sobreposição de actividades e de papéis que se assumem – a cada instante é possível ser trabalhador, consumidor, produtor de conteúdos, ser social – que tornam tudo o que se faz crescentemente híbrido em termos de necessidades e de motivações.

    O digital estabelece também novos tempos, novos momentos e novos contextos nas vidas dos indivíduos; dilui fronteiras espaciais e temporais. Hoje quase tudo se joga num mesmo território, num mesmo ecrã, ao mesmo tempo, com linguagens que progressivamente convergem. O digital e todo o seu amplo mundo de conteúdos, experiências, interacções e transacções, configura e quase monopoliza a descoberta do que é “novo” e a indução de experiências que constituem muito do que é a vida dos indivíduos.

    Ser relevante nesta realidade aumentada do consumidor, exige à generalidade das empresas e das marcas novas competências, novos processos e sobretudo um novo mindset.

    Se é verdade, como a investigação confirma, que muito do processo de compra dos consumidores – quando hoje pesquisam, comparam, partilham, ‘postam’ – se joga no território do digital, é também certo, como vem sendo demonstrado noutras investigações do C-Lab, que os indivíduos valorizam de forma crescente a emoção, a relação, a história e outras dimensões que na sua essência se jogam com maior plenitude no mundo físico.

    O grande desafio de execução para quase todas as indústrias vai ser o de encontrar o adequado equilíbrio entre as suas realidades físicas e digitais, entre as suas linguagens analógicas e as suas linguagens digitais, entre a sua emotividade e empatia e a sua racionalidade funcional. Em tempos de múltiplas convergências, seja na sua relação com os consumidores e clientes, seja na sua actuação interna, as empresas terão que pensar integração; terão que ser capazes de resolver a equação complexa de entregar valor racional a consumidores toldados pelo digital e simultaneamente construir ligações e empatias suportadas em emoções profundamente analógicas, definidoras da sua natureza humana.

    Como escreveu Anders Sörman-Nilsson, no seu livro DIGILOGUE, um dos grandes desafios que hoje se coloca às empresas é o de conseguir “ganhar as mentes digitais e os corações analógicos dos consumidores do futuro”.


    O digital pode entregar mais funções, utilidade, usabilidade e valor económico, mas também mais relação e empatia. Neste compromisso entre as potencialidades do digital (que dilui as barreiras do tempo e do espaço), e da componente humana (de que se fazem as experiências mais ricas), assenta a campanha da empresa ferroviária francesa SNCF, “Europe. It’s just next door.”, lançada no final de 2013.